quinta-feira, 30 de abril de 2015

Memória auxilia vício em drogas, diz estudo

Pesquisadores da Universidade do Estado de Washington descobriram um mecanismo no cérebro que facilita o papel patologicamente poderoso da memória no vício nas drogas. O uso das substâncias é reforçado por esse mecanismo, que confere à experiência um peso emocional.



Assim, crescem os impulsos do indivíduo para se drogar novamente. A descoberta abre caminho para a busca de terapias que possam alterar ou mesmo eliminar essa função e, assim, tornar o vício menos compulsivo.

Os pesquisadores fizeram um experimento no qual removeram, em camundongos, a rede que cerca um grupo de neurônios no córtex pré-frontal, área do cérebro importante para a atenção, aprendizagem e memória. Acredita-se que essas redes regulem a capacidade de fortalecer ou enfraquecer como as memórias são revividas e reconsolidadas. Verificaram, então, uma mudança de comportamento: as memórias do uso de drogas ainda existiam, mas não eram mais tão fortes.

Barbara Sorg, professora de neurociência e autora do estudo, e Megan Slaker, doutoranda em neurociência, deram cocaína às cobaias, numa configuração específica, conhecida como “gaiola de drogas”, onde foram condicionadas (com luz ou calor, por exemplo) a associar a experiência ao lugar e às sensações provocadas. Fazendo um paralelo com o ser humano, seria algo como o viciado associar o uso da cocaína aos amigos que o acompanham, ao horário em que se droga ou a um ambiente específico.

A cada nova experiência, as cobaias procuravam recuperar memórias anteriores, alimentando-as com outras informações e as reforçando. Foi quando os pesquisadores retiraram, num grupo de camundongos, as estruturas neurais no córtex pré-frontal medial. E os animais demonstraram menos interesse em estar na gaiola dos estímulos, onde recebiam a droga.

O psiquiatra Jorge Jaber, presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas, especializado em dependência química em Harvard, e assessor da presidência da Associação Brasileira de Psiquiatria, considera o estudo promissor. “Será possível usar remédios para interromper a transmissão de dados do córtex ao hipocampo, onde está armazenada a memória da satisfação. O paciente pode, então, se interessar menos por aquelas lembranças”, explica.

Sorg frisa que o procedimento não apagou a memória das cobaias totalmente sobre as drogas, mas que deixou essa lembrança difusa, comprometendo assim a eficácia de seu poder emocional.

Fonte: O Globo
Imagem: Reprodução da Internet

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